Pode separar o artista da obra?




O movimento MeToo surgiu em 2017, apesar de agregar casos anteriores ao seu “nascimento”, é contra agressão sexual. Sua repercussão se deu em grande parte de por celebridades que foram vítimas de violência sexual realizada por nomes expressivos no mundo artístico: atores, diretores e assim por diante.
Esse movimento trouxe também mais uma vez a discussão de separar o artista da obra. Pois, dentro dos denunciados, havia figuras importantes que tiveram, e ainda têm, grande notoriedade no meio do entretenimento. Pessoas influentes não só pelo seu trabalho, mas pelo status que conseguiram em toda a carreira.
Ainda a respeito do movimento, a vida de muitos produtores de conteúdo foi exposta no sentido de ser possível identificar se tal indivíduo era um assediador, estuprador e coisas afins. Por causa disso, muitos consumidores dos conteúdos passaram a não consumir mais os trabalhos dessas pessoas ou os quais tivessem envolvimento.
Em contrapartida, outras pessoas continuaram a consumir obras e alegarem que o que o artista faz em sua vida pessoal não deve interferir na obra. Diziam que se o Diretor X estuprou alguém, ele deveria ser responsabilizado no rigor da lei, mas suas obras continuariam sendo apreciadas por causa do bom trabalho realizado.
É possível entender que há quem pense sobre a separação entre artista e obra. Contudo, é interessante ressaltar que suas obras, custaram não só o talento individual, seja diretor, ator, cantor, mas de toda uma equipe. Equipe tal que, caso não existisse, não haveria o trabalho.
Também, as vítimas desses agressores foram suas colegas de trabalho como exemplo de um diretor que estuprou uma atriz, outro diretor que quase matou a protagonista de um dos seus filmes mais cult, um ator que estuprava atores mirins, apenas para citar exemplos.
Sendo que as vítimas eram colegas não há como dizer que deve separar o artista da obra. Porque, para realizar seu trabalho, foi necessário agredir alguém, seja de forma física, psicológica ou sexualmente (ou todas juntas). Ainda que dentre as vítimas não exista alguma do meio artístico (exemplo do ator que batia na esposa), apoiar o trabalho de um agressor assim é concordar com seus crimes contanto que ele continue fazendo um bom trabalho de entretenimento público.
É inegável que muitas dessas obras, como filmes, foram marcantes não só para a indústria do entretenimento, mas para os que assistiram e gostaram ao ponto de acompanhar todo um segmento envolvendo aquela obra e é difícil pensar que alguém que participou daquilo pode ter feito isso a custo do bem estar de outras pessoas.
Imagine se para todo filme bom fosse necessário estuprar uma atriz. Imediatamente alguém pode responder que sim, existem filmes bons sem que precise chegar a tanto e que isso seria um exagero. Entretanto, quando se valoriza a obra de alguém que tem por reputação assediar, agredir seus e suas colegas, é como se o público dissesse que o crime de estupro está perdoado se o filme for bom.


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