Emprego não significa dignidade
Uma das grandes preocupações das últimas
décadas é a geração de empregos. Afinal, se um cidadão possui um emprego, ele receberá
um salário e com o salário poderia garantir sua subsistência e ainda mover a
economia. Consumindo, ou seja, injetando dinheiro no sistema econômico e assim
contribuindo para que outros recebam e possam gastar até que volte para ele
novamente em forma de pagamento. Se todos têm dinheiro, todos gastam, todos
gastam, todos recebem.
Entretanto não é tão simples.
Existe mais mão de obra à disposição do que vagas de emprego. Por consequência,
alguns ficarão de fora. O avanço da tecnologia favorece menor intervenção
humana no trabalho, diminuindo a necessidade de agentes humanos na produção e
assim, menos postos de trabalho. Se há menos gente empregada, menos gente com
capacidade de consumo. Mais pessoas sem a capacidade básica de prover o
sustento de sua família.
Por mais assustador que pareça, é
a realidade. A situação tende a piorar quando se responsabiliza o indivíduo por
não conseguir um emprego. O cidadão é considerado improdutivo, como se fosse um
parasita para sociedade por não ter conseguido um emprego, enquanto que ele
simplesmente não teve uma oportunidade.
O que leva uma situação
paradoxal: o indivíduo deve contribuir para o todo, mas o todo não contribui
para o indivíduo. O cidadão é considerado digno se tem um emprego, mas é
vagabundo caso esteja desempregado.
A vida em sociedade, ao menos em
teoria, representa ajuda mútua de seus membros, porém, a sociedade descarta a
ideia de ajudar seus membros em dificuldade. Considerar aqueles que não podem
contribuir para o grupo como se não quisessem contribuir é tratar de forma
cruel aquele a quem se deveria proteger.
Exigir que uma pessoa seja grata
por sacrificar seu tempo, sua saúde e sua inteligência para um deus que apenas
o consome e o descarta quando sente que não lhe é mais útil é jogar fora toda a
dignidade da pessoa. Não entender que um indivíduo não trabalha por escassez de
oportunidade enquanto se exige dele uma forma de “participação” significa que
falhamos no conceito de sociedade. A sociedade deve zelar por aqueles que estão
sob sua tutela da mesma forma que uma família cuida de um membro doente. A
dignidade não está no trabalho, mas sim, em cuidar daqueles que compõem o
grupo.
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