O aluno comum

Esta é uma história ordinária que aconteceu em uma sala de aula qualquer, em uma instituição de ensino qualquer. Havia uma turma comum e como qualquer turma, havia os tipos clássicos de alunos: estudiosos, preguiçosos, desordeiros, faltosos, tímidos, desinibidos, apaixonados, raivosos e assim por diante.
Dentre os tipos citados, havia o aluno comum. Aparentava ser um cara legal. Não se encaixa em algum grupo. Era uma pessoa tranquila. Estava presente nas aulas mas não na turma. Era inexistente sua presença nos eventos sociais ao mesmo tempo que não mostrava desconsideração. Também se ausentava dos conflitos, das fofocas, até parecia um item de decoração: estava lá, uma peça do ambiente, mas só era visto com o todo geralmente passando despercebido.
Um dia, algo fora do rotineiro aconteceu. Na turma havia um valentão e este percebeu o aluno comum. Para o que aconteceu depois disso, alguns chamam de implicância, outros, de perseguição; contudo, quando ocorreu, ninguém disse palavra alguma. O tal valentão passou a sentar próximo ao aluno comum e assim iniciou-se a série de incômodos. Primeiramente, sentando à frente do cara legal pressionando-o para trás com a cadeira. Em seguida, os esbarrões que ficavam cada vez mais violentos além de derrubar o material do estudante. Durante esses atos, o aluno comum nada fazia e nada expressava apesar de ter vontade.
Não tardou para que o aluno vítima quisesse tomar uma atitude. Em um dia, o valentão jogou os materiais do colega no chão. Inicialmente, o colega fez nada ainda que estivesse um turbilhão de emoções negativas por dentro: medo, ódio, tristeza. Já não aguentava as provocações. Tentou se conter, mas estava em seu limite e reagiu. Partiu em direção ao valentão com tremenda raiva e impulso e sem força e experiência em brigas, afinal, era um cara legal. O valentão, com superioridade física o dominou rapidamente e com facilidade subjugando o aluno  mais fraco. Este machucou-se em frente da turma que preferiu nada fazer. Todos viram, mas nada ajudaram.

O aluno ordinário ficou com o rosto e o orgulho ferido. A turma não intercedera, não houve sequer um protesto contra a atitude ou uma palavra de consolo ao ferido. Consequentemente, não houve comentários posteriores sobre o ocorrido e as aulas prosseguiram. O valentão cansou-se dessa vítima e migrou para outra e o aluno ordinário voltou ao seu mundo invisível e comum.

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