Filhos do Egoísmo




A maternidade e paternidade, em geral, são consideradas as coisas lindas. São tratadas como símbolo de abnegação, amor e cuidado. O dom de gerar a vida é um milagre divino. Realmente, ver um ser humano crescer é um espetáculo único. A formação não só de uma vida, mas a criação de uma personalidade, o desenvolvimento de um indivíduo são coisas fascinantes.
Toda essa maravilha tem um preço. A criação de um filho é algo que demanda, além de recursos financeiros, tempo, afeto, paciência, resiliência e diversas coisas que não caberiam aqui. Por se tratar de uma vida, uma criança não é um brinquedo ou item obrigatório de vida como deixa a entender algumas fontes sobre o ciclo da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer.
O número populacional do planeta cresceu de forma extraordinária no último século, tendo salto de bilhões em espaços menores que um século. Em contrapartida, os recursos naturais reduziram de forma significativa junto com esse aumento de habitantes no mundo. Preocupa-se muito hoje com escassez de água, alimento, espaço além de, para os preocupados apenas com dinheiro, falta de emprego e dinheiro.
Por mais que se diga que a Terra consegue abrigar o contingente populacional que há no momento, é evidente que não é um bom abrigo. Ainda que a tecnologia tenha avançado para otimizar a produção de alimentos, muitos ainda passam fome e sede. O desmatamento de áreas naturais para construção de habitação vai matando o planeta de forma cada vez mais rápida. A busca por lucro imediato e o avanço da entidade progresso está dizimando espécies de animais e plantas.
Toda essa crise indica que o ser humano é egoísta. E egoísta não apenas por destruir sua casa, mas persistir em procriar mesmo sabendo que o limite de pessoas já chegou. Quando alguém diz que “ter filho é bom”, “você precisa ter um seu”, está dizendo na verdade que não importa se outros podem sofrer, mas que a prole dele vai existir.
No momento em que alguém acredita que deve ser pai para se afirmar como macho na sociedade, ele quer dizer que sua necessidade de autoafirmação é maior do que os problemas que seu filho pode enfrentar em um mundo em colapso.
A intenção não é dizer que não se deva ter filhos, mas pensar em que mundo irá coloca-los e se isso não será ruim para eles. A falta de planejamento familiar traz sofrimento para os que nasceram. Afinal, não é apenas estar vivo, tem que ter condições para viver.
Um outro ponto que mostra que a necessidade reprodução é um egoísmo está na adoção, ou melhor, na falta dela. A pessoa que diz que criar alguém é necessidade humana, mas recusa adotar uma criança por acreditar que tem de “fabricar” o filho. Ela não quer cuidar de um ser vivo, ela quer ter a sensação de que gerou um ser.
Ao adotar uma criança, estaria fazendo várias coisas positivas para a humanidade. Poder dar amor familiar para quem não teve a oportunidade de ter; reduzir a desigualdade social; ao invés de gerar mais um indivíduo para consumir recursos, estaria distribuindo para um que já nasceu; mais uma vez lembrando dos que apenas pensam na economia: menos desempregados, uma vez que diminuiria a quantidade de oferta de mão de obra, a qual está muito maior do que a demanda de emprego.
Evidentemente, adoção não é tão simples, mas é uma alternativa. Afinal, criar filhos também não é tão simples. Ter filhos, por mais que exija amor, não quer dizer que o pai esteja pensando na criança, bem provavelmente nele que tem a vontade de gerar uma descendência e esse pensamento pode contribuir para que sua prole não tenha das melhores vidas. Isso é algo que envolve tanto o ambiente mais próximo da família, no caso de situações sociais já descritas, como no planeta, se tratando de esgotamento de recursos.
Se não houver uma reflexão agora sobre isso, o egoísmo de criar filhos (no sentido de ter filhos apenas por achar que deve), é bem provável que o futuro desses filhotes não será tão bom.

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